IDOSOS
E A VULNERABILIDADE DIGITAL
Nada é menos digno de honra do que um homem idoso que não tenha
outra evidência de ter vivido muito exceto a sua idade.
Estamos imersos na era
digital. Ainda que não se goste de tecnologia temos contato direto ou indireto
com redes sociais, comunicadores, aplicativos de transporte, navegadores usados
nos carros e afetados por diversos algoritmos e uma imensa parafernália tecnológica
às vezes até impensada por muitos, em que as empresas e o Estado monitoram a
nossa localização, as nossas imagens, sons e movimentações do mouse. Jovens e pessoas
experientes têm que se ambientar e se adequar aos ônus e bônus que daí resulta
de um mundo cada vez mais digital e conectado.
É fato que a nossa população
chamada idosa vem crescendo e crescerá bastante nos próximos anos. No mundo
todo há certa exclusão digital por falta de acesso as novas tecnologias para
alguns e também, para outros, por falta de interesse mesmo em seu uso, como
opção para muitos, o que é um direito que lhes assiste. De outro lado, o Brasil
é um dos países que mais sofre com cibercrimes (exemplo que afetada
especialmente os idosos: empréstimo consignado).
A lei brasileira considera
idoso aquele que detém mais de 60 (sessenta) anos, conforme reza o artigo 1º,
do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). Mas aqui se pede licença para
transcrever o artigo 21, § 1º, da apontada Lei: “Art. 21. O Poder
Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando
currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele
destinados. § 1o Os cursos especiais para idosos
incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais
avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.”
Ora, salvo melhor juízo, há
poucas políticas para tal inclusão aos sêniores, com metodologias específicas
para esse especial público. Apesar de conhecer várias pessoas, que alguns denominam
estar na “na melhor idade”, e serem elas muito bem desenvolvidas com o uso da
tecnologia e o mundo dos negócios, imagina-se que se trata de exceção. Não há
uma política de Estado efetiva sobre essa temática. Existem alguns grupos no
terceiro setor que se dedicam ao mundo dos sêniores e que arregaçaram as mangas
e estão se especializando e formando para ficaram cônscios dos desafios
digitais.
Os jovens, no geral, têm
pouca paciência para ensinar os mais experientes até pelo chamado choque de
gerações. Alega-se que “falta tempo para tudo” no mundo líquido (Bauman) e
quando isso ocorre por alguém bem intencionado em ajudar, em um primeiro
momento, há o grande risco, posteriormente, de familiares e pessoas próximas ao
idoso terem acesso a dados sensíveis dos sêniores, o que poderá redundar além
de invasão de privacidade ou intimidade, em algum prejuízo financeiro.
Já ouve casos noticiados de
familiares que recebiam aposentadorias pelos idosos da família, além do que,
com acesso a contas bancárias se percebe o nível de “poderes” que alguém pode
ganhar no campo patrimonial de outra pessoa. O que também pode gerar danos
enormes em termos de convivência e abandono afetivo, no caso do idoso
hipossuficiente que franqueia as suas senhas a terceiros, que poderão bloquear
amigos, parentes e pessoas que não convenham a este e não ao idoso vulnerável,
já que muitos presumem que uma mensagem recebida por aplicativo equivale à pessoa
receptora receber aquela mensagem de viva voz pelo emitente.
Até um(a) cuidador(a),
enfermeiro(a), faxineiro(a), doméstico(a) e outro profissional mal intencionado,
que por ventura frequente a casa do idoso – dependendo do grau de maturidade
tecnológica deste e de suas condições de saúde e de consciência, bem como, de meids
protetivas adotadas pelos seus mais chegados e de confiança – eventualmente
poderão ter o acesso facilitado a dados sensíveis, caso o idoso não tenha
alguém que lhe proteja ou instrua, já que a ruptura tecnológica é pouco entendida
ainda por muitos, como dito, sejam idosos ou não.
Ora, o ideal é que,
independentemente da idade todas as pessoas saibam administrar as suas contas
nas redes sociais, nos serviços bancários, INSS, comunicações e etc., já que,
não raramente, despontam notícias de golpes financeiros, amorosos (golpes em
que os galanteadores estelionatários solicitam depósitos, passagens, pagamentos
para cirurgias, esses exemplos são frequentes), conflitos em redes sociais e
outras modalidades em que pessoas experientes (mas inexperientes com
tecnologia) são vítimas. De tal modo, os sêniores, ainda que não saibam ou não
gostem de tais aspectos digitais deverão buscar blindagem patrimonial e de suas
comunicações e dados tecnológicos, de alguma maneira.
Desta forma, trata-se de
fato incontroverso que os mais experientes merecem mais proteção legal e real,
por essa presumida vulnerabilidade, que será maior ou menor, a depender dessa
Educação Digital desenvolvida, mas que, de fato, tem que ser oportunizada cada
vez mais pelo Estado e, se não o for, que a sociedade civil encontre mecanismos
e forme uma rede para escudar a todos, o que pode começar dentro da família com
orientações, evoluindo para grupos com palestras e cursos, já que, todos nós,
independentemente da idade, devemos nos atualizar com frequência, pois, os
saltos tecnológicos têm ocorrido em prazos cada vez menores e, por consequência,
benefícios e malefícios decorrentes daí nos rondarão.
PS 01. Registro a minha
homenagem “in memoriam” ao amigo Dudu Balochini, CEO da Sênior Geek,
recentemente falecido, alguém que era um grande guerreiro do bem no acesso e Educação
Digital dos Sêniores e ele ainda não tinha completado 60 anos. Encontramo-nos
quatro ou cinco vezes, o que foi suficiente para considerá-lo amigo, pois assim
agia, com verdade e lealdade, o que é raro na nossa quadra atual.
PS 02. Ultimamente tenho
sentido falta dos valiosos conselhos que recebia da minha avó materna, que era
muito sabia e ponderada, algo muito dileto no mundo hodierno, cheio de
equivocados donos da razão.
PS 03. Escolhi a imagem de
Gandalf, pois sou fã das sagas cinematográficas “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”,
e ele sempre passou a imagem de um herói sereno, que concentra a força de um
guerreiro, a magia da luz e a sabedoria oriunda da experiência, adquirida em
milhares de anos, segundo alguns experts na ficção.
Advogado. Professor
Universitário. Mestre em Educação. Autor de livro e artigos abordando a
temática Direito, Educação e Tecnologia. Proprietário da página Educação
Digital e Direito Digital, do Facebook. Diretor da Fidalgo Cursos e Palestras Ltda.