ALEGORIAS DE PLATÃO, MATRIX E A EDUCAÇÃO
DIGITAL PREVENTIVA DA SEGURANÇA LEGAL
Agora imagine a nossa
natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o
quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea
em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada.
Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo
pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo
que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás
deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que
sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao
tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do
qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo.
Em
um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de
computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos
nos quais encontra-se conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso
sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no
exato momento em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida
que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por
meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity
(Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do
Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas,
criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos
indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que
Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as
pessoas de volta à realidade e à liberdade.
Sinopse do filme Matrix[ii]
Busca-se aqui estabelecer uma conexão
entre o milenar texto de Platão e o clássico filme da cultura pop Matrix,
especialmente considerando o grau de incerteza que a tecnologia da nossa Pós
Modernidade, atual Revolução Tecnológica ou Pós-Verdade nos impõe. Seja para os
que são excluídos tecnologicamente, seja para os que são nativos digitais, seja
para os que são os imigrantes digitais, enfim, todos nós, independentemente do
grau de engajamento tecnológico, percebe-se que a tecnologia diretamente a
todos afeta!
Pela Alegoria da Caverna, de Platão,
relata-se um diálogo de Sócrates, o texto nos remete aos influxos da educação e
as suas limitações naquele restrito mundo, comparando os indivíduos que estavam
dentro da caverna, bem como, aventando a possibilidade de caso um deles saísse
de lá, como se relacionaria voltando ao contar as novidades aos demais, imaginando-se
os conflitos daí decorrentes e etc. Questionou-se: ao sair se a sentida claridade
ofuscaria a visão de quem saiu e na volta os demais dariam crédito aos seus
relatos? Ele preferiria ficar fora ou dentro?
No que tange ao filme Matrix, além de
abordar uma possível e atual discussão da dominação da humanidade pelas
máquinas, pela inteligência artificial, o filme questiona o real e o virtual,
no célebre questionamento: pílula azul ou vermelha? De modo que, na trama, as
máquinas nos colocam em uma realidade paralela, enquanto alguns homens despertam
voltando a realidade e guerreando pelas suas liberdades.
No nosso momento atual, questiona-se
se estamos dentro ou fora da caverna ou dentro ou fora da Matrix? Dada à
velocidade que a tecnologia se modifica se entende que deve haver um esforço
contínuo para saber o que está ocorrendo de modo constante! Contudo, dada a enorme
gama de informações, isso será possível?
Segundo Augusto Cury[iii]: “Hoje uma criança de 7 anos de
idade tem mais informações do que o Imperador romano tinha no auge do império”.
De outro lado, os nossos atuais smartphones tem mais tecnologia do que o poder
computacional da missão Apollo 11[iv]. Vale registrar também
que, a quantidade de dados produzida pelos humanos têm dobrado a cada dois anos[v].
A tecnologia que
seria para servir aos seres humanos, ao ser usada de modo inadequado, poderá
lhes causar grandes transtornos. Ainda que a pessoa seja totalmente contra o
uso tecnológico, de algum modo o uso de aplicativos por pessoas com quem se
relaciona, como o Waze, o Uber, o Facebook, o Linkedin, o WhatsApp ou algum
outro software lhe afetarão, mesmo que indiretamente.
Itens como
inteligência artificial, o uso crescente dos algoritmos, da computação
cognitiva, do aumento do número de câmeras, do geolocalizador do celular,
internet das coisas, compras eletrônicas e demais itens tecnológicos nos deixam
a todos mais expostos, de modo que, os conceitos de intimidade e privacidade
serão cada vez mais diminuídos, de modo que alguns afirmam que tais direitos
fundamentais morreram ou morrerão![vi]
Os desafios do
momento são enormes! Observam-se as pessoas se digladiando nas redes sociais pelos
assuntos dos mais banais. Em sites de relacionamento as pessoas colocando dicas
valiosas de onde moram, onde trabalham e etc., de modo a ocorrerem, como
consequência estupros, violência, vingança pornô, extorsões e demais situações,
dada a vulnerabilidade que se expõe as pessoas pelo uso tecnológico de maneira
despreparada. Tem saltado condenações por curtir e compartilhar. E as pessoas são
facilmente manipuladas pelas chamadas fake
news.
Nosso emprego
pode estar em risco pelo uso do celular ou do computador de modo inadequado ou
excessivo na empresa[vii].
Recentemente, até pelo tal do gemidão, interpretado como uma espécie de
cyberbullying ou pegadinha, um trabalhador foi demitido, com a sua demissão posteriormente
revertida pela Justiça de justa causa para sem justa causa[viii].
Em decorrência de
toda a exposição, os nudes, os vídeos íntimos vazados e etc., têm levado as
crianças e os adultos até o suicídio, quando não há chantagens e demais
situações, causando prejuízos de ordem moral ou profissional. Quem já não
observou alguma situação em que o Tribunal do Facebook atuou como legislador,
julgador e executor? Operando a verdadeira morte digital do vitimado pelos
“juízes” do povo.
Há que entenda que vivemos em uma
realidade condicionada pela tecnologia, como uma realidade paralela. Mas, nada
obstante, o que de fato ocorre é que, o que alguns tratam como virtual, na
verdade é real, mesmo que ocorrido em outras plataformas (sites e aplicativos),
de modo que, as consequências e a legislação que se aplicam estão no mundo
real. De modo que, não afastam as ocorrências de causas e efeitos, direitos e
deveres!
Recentemente ocorreu como predito em
um episódio da série Black Mirror, ou seja, uma atriz perdeu um potencial
serviço tendo em conta que ela não tinha muitas curtidas. No aludido seriado,
as pessoas tinham pontuação que eram definidas pelo número de curtidas, o que
lhes gerava benefícios para ter o imóvel próprio, frequentar as melhores festas
e etc.
Portanto, como na Alegoria da Caverna
há momentos em que não necessariamente quem sabe mais, inclusive nos aspectos
tecnológicos, é respeitado como mais entendido do contexto real, como na
metáfora do que está fora da caverna e do que está dentro. Tal consciência, não
necessariamente, trará para aquele que foi “liberto” melhores oportunidades ou
consideração dos demais por tal façanha.
Quanto a Matrix, ainda que não vivamos
em um mundo dominado pela inteligência artificial, subjugando a todos, cabe a
reflexão de que, o uso em demasia da tecnologia, com todos on-line, vem gerando
vício tecnológico, tornando a todos nós mais ansiosos, além de outros tipos de
moléstias já diagnosticadas. Some-se que, com muitos preferindo a vida irreal
das redes sociais do que o dia a dia que parece mais chato e mais complicado,
como ocorria na plataforma second life ou
mesmo nas redes sociais quando se vive em um mundo idealizado.
Adicione-se também que, o vício no uso
das redes sociais causa dano patrimonial às empresas, pois, a mão de obra que
forma o capital decai em produtividade, com notável infração ao contrato de
trabalho, em suma, gerando prejuízos.
De outra frente, as pessoas poderiam
usar tal arsenal tecnológico para melhor se autoformarem, governando o seu
destino dentro do que de si depende, buscarem um conteúdo que lhe dê autonomia
de pensamento e lhe floresça a inventividade, mas, com o tempo gasto com redes
sociais e sites que não têm um conteúdo edificante, o desperdício ocorre, de
modo a fazer com que, em momento de crise econômica, as chances de recolocação
ou de manutenção em uma vaga de trabalho sejam reduzidas.
Nota-se que, assim, a Educação
Digital, por meio do desenvolvimento de uma Cidadania Digital ou um
Cibercidadania é urgente! Com palestras, cursos, vídeos, ou seja, para que se
trabalhe a formação humana dos usuários, despertando um padrão mínimo ético,
bem como, para que seja respeitada a dignidade da pessoa humana em diversas
situações geradas pelo mundo digital.
De outro lado, com a consciência
despertada, podem-se evitar várias situações como as aqui relatadas, como forma
de prevenção, com certa Segurança Legal, para que os incidentes digitais não
atinjam os que se valem dos instrumentos tecnológicos que, devem nos servir,
curvando-se aos direitos humanos e fundamentais, representados pelo
sobreprincípio da dignidade da pessoa humana!
Advogado Sênior da Fidalgo
Advocacia.
Auditor Jurídico.
Especialista em Direito
Processual Civil pela Universidade São Francisco.
Especialista em Direito
Tributário pela Escola Superior de Advocacia da OAB/SP.
MBA (Master Business Administration) em Auditoria pela Universidade Nove
de Julho.
Especialista (Lato Sensu) em
Computação Forense pela Universidade Mackenzie.
Mestrando em Educação pela
Universidade Nove de Julho.
Membro Efetivo da Comissão de
Direito Digital e Compliance da
OAB/SP.
Membro Efetivo da Comissão de Educação
Digital da OAB/SP.
Membro da Comissão de Direito do
Consumidor, CONSEG e OAB vai à Escola, da Subseção da OAB/Santana.
Vice-Presidente da Comissão de Direito
Digital da OAB/Santana.
Articulista nos
Portais TI Especialistas, Direito & TI, Profissionais TI, Yes Marília,
Jurisway e Administradores.
Certificações em
Tecnologia da Informação pela ITCERTS, do Canadá.
Pesquisador e
Palestrante.
[i] Alegoria da Caverna. A República de
Platão. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf.
Acesso em: 01/10/17.
[ii] [ii] MATRIX.
Warner Bros. Adoro Cinema. Disponível em:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-19776/. Acesso em: 01/10/17.
[iii] JORNAL
A HORA. Entrevista a Augusto Cury. Precisamos
reciclar a educação, diz Cury. Disponível em:
http://www.jornalahora.com.br/2014/09/25/precisamos-reciclar-a-educacao-diz-cury/.
Acesso em: 01/10/17.
[iv]
Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/tecnologia/58029-gadgets-atuais-potentes-sistema-nasa-que-levou-homem-lua.htm.
Acesso em: 01/10/17.
[v]
Disponível em: http://www.proxxima.com.br/home/proxxima/how-to/2017/09/27/mais-do-que-dados-devemos-ver-as-pessoas.html.
Acesso em: 01/10/17.
[vi]
SIQUEIRA, Ethevaldo. A privacidade está
morrendo ou já morreu? Disponível em: http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_privacidade_esta_morrendo__ou_ja_morreu__imprimir.html.
Acesso em: 01/10/17.
[vii]
FIDALGO, Adriano Augusto. Uso imoderado
do Celular, do WhatsApp, Redes Sociais em geral e a justa causa. Direito
& TI. Disponível em: http://direitoeti.com.br/site/wp-content/uploads/2016/02/FIDALGO-Adriano-Augusto-Justa-causa.pdf.
Acesso em: 01/10/17.
[viii]
GLOBO.COM. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/gemidao-do-whatsapp-causa-demissao-de-entregador-de-farmacia-em-natal.ghtml.
Acesso em: 01/10/17.
Meus parabéns colega. Excelente exposição ligando conceitos clássicos e pós-modernos.
ResponderExcluirGrato! Abraço.
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